quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Poderia


Poderia falar de amor, mas sobre o amor pouco se fala diante do muito que se sente e do pouco que se explica, pelo menos por palavras.
Poderia falar de paixão, mas ela é tão efêmera que corro o risco de investir num discurso que se perde no ar, tão logo o fogo se queima e a chama se apaga.
Poderia falar de desejo, mas diante do real, talvez me perdesse entre o que posso e o que verdadeiramente anseio.
Poderia falar de família, mas descubro na solidão minha maior companhia: filha, mãe, mulher, pessoa... Todas juntas numa só.
Poderia falar de trabalho, mas o cansaço me impede e minha alma padece de tanto lutar.
Poderia falar de amizade, mas prefiro falar de coleguismo já que amigos são poucos, colegas, um montão.
Poderia falar de saúde, mas nesse momento, meu corpo sente o peso dos anos e a crueldade das amarguras.
Poderia falar de solidariedade, mas o “cada um por si e Deus por todos” é o que tem reinado e o que tem vencido.
Poderia falar de respeito, mas ser diferente traz no peito a dor de destoar.
Poderia falar de compreensão, mas porque ter razão se a razão é não ter o porquê.
Poderia falar de entusiasmo, mas a luz que ilumina meus atos apaga-se quando o rumo vai contra meu desejo.
Poderia falar em crença, mas minha fé inabalável está de recesso enquanto meus valores são bombardeados pela injustiça.
Poderia falar de tristeza, mas carrego comigo a certeza de que, mesmo triste, alegro-me por viver.
Poderia falar de problemas, mas prefiro falar de soluções já que o problema é não resolver.
Poderia falar de pessoas, mas escolho falar de mim porque olhando para dentro não corro o risco de errar a pontaria.
Poderia falar de ódio, mas como fazê-lo se meu coração está lotado, mas não dessa emoção?
Poderia falar do acaso, mas minhas escolhas me impedem de banalizar os resultados diante das opções por mim de-ter-minadas.
Poderia falar de crueldade, mas sem dúvida é melhor registrar a bondade que mora no meu interior e se extravasa na minha atitude de não querer para o outro o que não desejo para mim.
Poderia falar de silêncio, mas meu ser suplica por dizer o que calo no espírito e o que se deixa escapar no olhar.

Poderia falar de fim, mas começo a perceber que o início é diário e que o destino se traça em cada novo amanhecer..._________________*Cristina Hinn

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