quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Devaneios contraditórios




Desejo e razão: briga constante no meu coração. Por um lado, o consciente aponta todos os motivos que me levam a não dever querer. Por outro lado, aquele destemido inconsciente faz arder em meu coração o desejar... Desejo sem nome, nome sem dono, dono sem rumo, rumo de desejar. Brilho nos olhos, coração palpitante, alma expectante – sintomas incontroláveis que invadem o ser sem dar o direito de não querer...

Novamente a luta: amar ou racionalizar? É possível equalizar? Racionalizar ou ser verdadeiramente feliz? Ser verdadeiramente feliz ou escolher o aparentemente ideal? Escolher o aparentemente ideal é permitir que o vazio se apodere e caia novamente na fantasia... Céus! Será que o que nos atrai verdadeiramente é o caos? Se for o caos, por que referimos buscar a calmaria? Quando buscamos a calmaria, por que os monstros perturbam nosso descanso? Se os monstros perturbam, por que não tememos a escuridão quando a luz se apaga em nossos corações? As trevas enegrecem a cena, mas iluminam a criatividade quando o assunto é desejar...

Tanta contradição, tanto querer discrepante em meio ao desejar. A cabeça raciocina enquanto o corpo reage às emoções. Tanta incoerência num só ser dividido naquilo que deve, precisa ou pode acreditar e naquilo que realmente crê desejar. Crer no que ama, que vibra a cada instante quando deixa o coração se pegar pelas mãos da emoção sem nada pensar. Buscamos o equilíbrio, mas nessa balança o peso maior, além de soberano, sempre vencerá. Porque não há como fugir daquilo que o desejo resolve operar. Não falo de desejo no sentido de necessitar... Falo do desejo que se impõe inconscientemente, independente do justificar. E esse realmente dá medo, porque não perdoa, somente vive em nome do realizar.

E vivemos rodeados de falsos desejos que representam o dito como “certo”, o correto, o que os padrões determinam. E não compreendemos porque adoecemos, porque trazemos sintomas corporais das nossas insatisfações, das nossas incessantes tentativas de mascarar o que vibra dentro da nossa alma como o verdadeiro desejo. Enganamos no agir, fingimos no ser, mas não escapamos no sentir... E dessa forma vamos levando a vida como se fôssemos produto reproduzido a partir de um modelo, muito aquém daquilo que somos, distantes de tudo que realmente sentimos.

Cada vez mais, tentamos a qualquer custo realizar os desejos que se colocam como reais. Entretanto, cada vez menos estamos satisfeitos. Há que se perguntar se o saciado de fato corresponde ao desejado. Se assim o fosse, não deixaria seqüelas tão severas no que tange à procura inesgotável de sei lá o quê. Falta reflexão, análise de si, contato interior. É preciso descobrir se você quer o que deseja ou se deseja o que quer... Bom mesmo seria se conseguíssemos avaliar o que é nosso e o que se mistura ao nosso eu a ponto de não distinguirmos nossos próprios anseios.

Aprender a se escutar talvez seja a tarefa mais árdua que o ser humano pode enfrentar... Porque se escutar significa se implicar nas escolhas e isso exige coragem, determinação e responsabilidade. Parece mais simples deixar o outro falar por nós, desejar por nós, realizar por nós. Assim, nos livramos da culpa e do peso do livre arbítrio e, consequentemente, dos resultados que virão em virtude dos caminhos que tomamos.
Nessa luta eterna entre desejo e razão, que vença VOCÊ, inteiro, sujeito da própria edição. Por Cristina Hanh